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Arquitetos: ATELIER ARS
- Área: 3100 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:César Béjar
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Fabricantes: Hermman Luxe, Ladrillera Mecanizada, MOOMA Mosaicos
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto de intervenção no auditório existente e sua ampliação como centro cultural foi solicitado pela Secretaria de Cultura do Estado de Jalisco, para cumprir os objetivos do programa conhecido como Cultura Cardinal. Este programa busca descentralizar a cultura e difundi-la em diferentes regiões do estado, através da construção de diversos complexos culturais. Nosso projeto está localizado na orla do lago de Chapala, o maior do México.
Seu litoral é o assentamento de estrangeiros mais importante do país, devido às qualidades de seu clima e estilo de vida pacífico. Para nós, era muito importante que nosso projeto pudesse comunicar parte da história cultural do lugar.
Por isso, nos dedicamos à tarefa de pesquisar e conhecer alguns dos mitos fundacionais da antiga cultura Wixárika, que tem um de seus centros cerimoniais mais importantes no lago de Chapala.
Formação natural e mito.
Na era Paleozoica, o lago fazia parte de um fiorde proveniente do Oceano Pacífico. Devido à atividade vulcânica, emergiu o sistema topográfico conhecido como Eixo Neovulcânico Transversal Mexicano.
Esse fenômeno separou aquele grande mar interno ao qual o lago de Chapala pertencia, ficando delimitado por eminências topográficas. Ao longo dos séculos, esses fenômenos naturais produziram o ecossistema que hoje conhecemos, com uma identidade muito particular em relação à configuração mineral do subsolo, vegetação, fauna, clima, etc., onde a presença do lago é um fator fundamental para a compreensão das culturas fundacionais locais.
Os mitos dessa cultura pré-hispânica aludem a esses processos de formação topográfica e aquífera. Suas lendas nos falam do surgimento do lago através de um processo de dessecação, em que uma deusa afundou seu bastão no fundo do mar, provocando o descenso da água e produzindo também a formação de uma ilhota, no mesmo lugar onde hoje se encontra o santuário mais importante da cultura Wixárika. Nossa intervenção tenta narrar alguns desses mitos de forma simples e compreensível para qualquer pessoa, que abordamos em três momentos diferentes como parte de uma narrativa de paisagem.
Reconsiderar a preexistência.
Para a configuração do novo centro cultural, o ponto de partida de nossa intervenção foi a recuperação do que era pré-existente no terreno: um auditório para 400 pessoas e um edifício de escritórios. O auditório já continha um pórtico com abóbadas de tijolo tradicionais que reconhecemos como o elemento de pré-existência mais valioso em termos arquitetônicos.
Por isso decidimos que o restante dos edifícios seria construído com elementos de barro da região, utilizando diferentes formatos e sistemas construtivos, para produzir um sentido de unidade e, ao mesmo tempo, como uma forma de ajudar a perpetuar o conhecimento artesanal que ainda se encontra nesse contexto.
Embora nenhum desses edifícios pré-existentes tivesse valor patrimonial, decidimos recuperá-los e integrá-los no novo conjunto, ao qual adicionamos três novos elementos: uma biblioteca como fachada do conjunto, um edifício longitudinal de serviços com sala de música, sala de dança e anfiteatro ao ar livre e, finalmente, um espelho d'água central.
A implantação dos novos edifícios foi feita de forma que pudessem funcionar como limites e para que sua presença transmitisse a ideia de recinto. Por isso, o prédio da biblioteca alinha-se claramente com a avenida e o edifício longo de serviços, por sua vez, delimita o lado leste do terreno.